Esta guerra continuará até que os ucranianos vençam

Ao longo de 11 anos de guerra, que nos últimos três anos e meio tem causado vítimas diárias não apenas entre militares, mas também entre civis, os ucranianos não perderam a fé em suas próprias forças, muito menos nas forças armadas da Ucrânia. Eles não têm escolha. A Rússia condenou-os ao desaparecimento.
Parece que, no século XXI, na era do desenvolvimento das instituições mundiais, seria impossível repetir genocídios e guerras terríveis por causa de conflitos ideológicos. Mas não é isso, que acontece. O progresso tecnológico muda os meios de matar, mas não altera a natureza dos conflitos.
Provavelmente, até na China entenderam que Putin percebe o mundo apenas através da mentalidade russa. Por meio dos mitos criados por historiadores, filósofos e escritores imperialistas e soviéticos, que nunca tiveram coragem de expressar sua própria opinião, apenas ajustando seus talentos aos desejos de um czar ou secretário do partido (no caso da União Soviética e atual governo russo).
Infelizmente, com o tão fácil acesso à informação hoje em dia, e com tantas investigações científicas sobre história, muitos cidadãos de países de Ocidente continuam a pensar que os russos são um grande povo que vive numa área de 17 milhões de quilómetros quadrados, abrangendo o Norte da Ásia e a parte Leste da Europa, e que conseguiu unificar 190 povos em uma única nação.
Na realidade, não unificaram, mas subjugaram de forma brutal, impondo sua religião imperial, língua e regras. Muitos desses povos já desapareceram, ou estão à beira da extinção.
Sim, da mesma maneira se comportaram outros impérios. Mas, no século XXI, a civilização ocidental chegou a soluções racionais e humanas para problemas de colonização e conflitos interétnicos e religiosos. A liberalização das economias, a liberdade de expressão e a democracia política mostraram sua eficácia tanto para o estado quanto para o indivíduo. Porém, a Rússia seguiu um caminho diferente de desenvolvimento. A tática e a estratégia de desenvolvimento da Rússia moderna não diferem em nada da conquista e destruição da Europa Oriental pelos mongóis, com a ajuda dos Príncipes de Moscovo.
Parece que a Rússia ficou presa na evolução medieval, tanto interna quanto externamente.
Para Moscovo, os ucranianos são um “povo” rebelde, que deve ser subjugado e assimilado, assim como os outros povos já conquistados. Um obstáculo à conquista de outros territórios que devem pertencer ao império. Essa é a principal ideia nacional dos russos modernos (moscovitas). Qualquer acordo ou tratado é visto como uma medida tática temporária para alcançar o objetivo principal de conquista, e não como algo duradouro que possibilite cooperação pacífica.
Desde o início da agressão armada contra a Ucrânia em 2014, a Rússia violou mais de 400 tratados internacionais nos quais a Ucrânia e a Rússia participam, e desrespeitou 22 documentos internacionais fundamentais a partir de 2022. A política de genocídio de Moscovo continua também em relação às minorias nacionais que fazem parte da Federação Russa. Além do fato de que o governo central não destina recursos para apoiar as suas necessidades culturais nacionais, com o início da guerra, esses povos passaram a ser a principal “carne”, enviada para a linha de frente da guerra.
Após os primeiros meses de guerra, em 2022, jornalistas independentes na Rússia realizaram uma investigação e descobriram que, entre os 1348 casos confirmados de mortes de soldados russos, a grande maioria pertence a representantes de minorias étnicas da Rússia.
Na sua maioria, os representantes desses povos entram na guerra contra os ucranianos (que nunca os ameaçaram), não por convicções ideológicas, mas devido à péssima situação socioeconómica nas suas regiões, onde a única forma de sobreviver é enviar alguém da família para a guerra.
No entanto, o número de mortos começa a transformar sua visão do mundo. Mesmo sob um regime policial brutal na Rússia, há cada vez mais protestos, surgem com perguntas a Putin. De uma imagem de inimigo, esses povos começam a olhar para a Ucrânia como exemplo de luta pelo direito à existência nacional. Uma libertação de séculos de opressão. Para eles, a rendição da Ucrânia significará a perda da última esperança de autodesenvolvimento. Mesmo agora, quando as regiões mais ricas em recursos naturais na Rússia estão sendo exploradas impiedosamente, o nível de vida da população nessas áreas é o mais baixo de toda a Rússia. O que acontecerá com elas quando os recursos naturais acabarem ou a demanda por energia mudar? Sem autogoverno, Moscovo não lhes dará nada e os deixará à mercê.
Chegou a hora de revisar a política ocidental equivocada de coexistência com a Rússia agressiva, que é um “tumor maligno” na civilização mundial. Com um custo alto, a Ucrânia já provou que, com apoio concreto do mundo ocidental e mudanças nos padrões duplos em relação a Moscovo, será possível vencer esse “tumor maligno”, o que marcará o início da libertação e do desenvolvimento dos povos oprimidos da Ásia do Norte e da Europa Oriental que fazem parte da federação russa, além de uma nova arquitetura de segurança e interação mundial.
Em 1991, o presidente dos EUA, George Bush, foi especialmente à Ucrânia para convencer o parlamento a não sair da URSS, porque temia o desfecho da superpotência nuclear. Sem apoio externo e contrariando a pressão internacional, os ucranianos fizeram a escolha do seu futuro. A história confirmou que essa foi a decisão correta, pois de outra forma, nós já não existiríamos. Agora, ou daqui a dez anos, a Rússia inevitavelmente se desintegrará, como já aconteceu com todos os impérios totalitários agressivos na história da humanidade. Criar uma zona desmilitarizada, a exemplo da Coreia do Norte ou de outros conflitos civis ou territoriais, não resolverá a questão da agressão russa. Apenas adiará a guerra para a próxima geração.
Nunca tivemos conflitos com chechenos, buriates, tártaros ou outros povos, que habitam estes territórios. Além disso, estou convencido de que a Ucrânia ajudará esses povos no seu reconhecimento internacional e desenvolvimento. Mas, como dizem, agora a “bola está do lado” do mundo ocidental.
Desde o início da guerra de larga escala (2022), quando ucranianos em todos os países do mundo civilizado saíram às ruas com cartazes: “Ajude a fechar o céu da Ucrânia”, passaram-se três anos e meio, que levaram a vida de dezenas de milhares de civis, e só agora é que os políticos do Ocidente começaram a falar a sério sobre isso. Toda a história da Ucrânia mostra que os ucranianos lutarão pela sua liberdade, porque a liberdade é um valor fundamental da nossa mentalidade e visão de mundo.
Assim está o mundo, onde os valores que sustentam a nação não podem ser apenas proclamados, eles exigem ser seguidos e defendidos.
observador