Relatório vincula produtores de energias fósseis ao aumento das ondas de calor

As mudanças climáticas têm tornado as ondas de calor nas últimas duas décadas mais prováveis e intensas, enquanto os produtores de energias fósseis e cimento favoreceram “significativamente” esta tendência, segundo um relatório publicado na revista científica Nature nesta quarta-feira (10).
Diferentemente dos estudos tradicionais centrados no impacto sobre um fenômeno concreto, os autores deste relatório – uma equipe internacional – inovaram, ao analisar uma série de 213 ondas de calor em todo o mundo durante o período 2000-2023.
Eles também buscaram se concentrar especialmente no papel das grandes empresas produtoras de hidrocarbonetos e cimento, emissoras de gases de efeito estufa.
– “Mais intensas e prováveis” –
“Este artigo demonstra que as mudanças climáticas fizeram com que mais de 200 ondas de calor fossem mais intensas e prováveis, e que esta influência vai aumentar”, explicou à AFP Yann Quilcaille, pesquisador da Escola Politécnica de Zurique, principal autor do estudo.
As mudanças climáticas provocadas pelo ser humano não só tornaram as ondas de calor mais prováveis, mas em um quarto dos casos (55 de 213), esta probabilidade foi multiplicada em pelo menos 10.000. Ou seja, teriam sido praticamente impossíveis de ocorrer sem o aquecimento global.
Além disso, a influência se reforça consideravelmente com o tempo, tornando as ondas de calor 20 vezes mais prováveis entre 2000 e 2009, e 200 vezes mais entre 2010 e 2019.
Os cientistas também quiseram compreender o papel das 180 maiores empresas produtoras de energias fósseis e cimento nesta tendência.
Para fazer seus cálculos, eles levaram em conta a cadeia de valor das companhias, como o uso que os clientes fazem dos produtos que elas comercializam.
– Litígios em alta –
Resultado: as emissões relacionadas a estas grandes empresas contribuíram em 50% para o aumento da intensidade das ondas de calor em comparação com a era pré-industrial e também aumentaram sua probabilidade.
O papel das 14 maiores empresas (entre as quais estão Saudi Aramco, Gazprom, Chevron e BP) parece muito importante, pois seu peso é equivalente ao das outras 166 empresas estudadas, cujo papel tampouco é insignificante.
Os autores concluíram que o estudo poderia “reforçar” o papel da ciência na atribuição perante os tribunais, em um momento em que o número de litígios aumenta.
“O objetivo do nosso [estudo] é científico”, mas “somos conscientes de seu potencial” para lançar luz sobre estes casos, sentenciou Quilcaille.
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IstoÉ