As mudanças climáticas forçaram a humanidade a fazer sacrifícios: o cérebro poderia ter sido maior

Um novo estudo sugere que a evolução pode ter deliberadamente limitado o tamanho do cérebro humano há cerca de 300.000 anos para equilibrar os custos de energia com a sobrevivência em um clima em mudança.
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De acordo com o estudo, o crescimento cerebral desacelerou há cerca de 300.000 anos devido a pressões energéticas e climáticas. Cérebros maiores têm sido frequentemente vistos como uma vantagem fundamental, permitindo aos humanos usar o fogo, fabricar ferramentas e se comunicar simbolicamente. No entanto, esses cérebros consomem cerca de 20% de sua energia em repouso e geram quantidades significativas de calor, o que pode ser uma desvantagem em climas mais quentes.
O autor do estudo, Jeffrey M. Stiebel, analisou essa compensação evolutiva. Espécies anteriores de Homo sapiens foram fortemente selecionadas para cérebros maiores, o que as ajudou a navegar em ambientes em mudança e mundos sociais complexos. Mas evidências fósseis sugerem que o tamanho do cérebro começou a diminuir nos últimos 100.000 anos, levantando a possibilidade de que a sobrevivência dependesse não apenas da biologia, mas também da inovação cultural. Stiebel diz que se sente atraído por questões amplas sobre a evolução e a cognição humanas — como nos tornamos quem somos e quais forças moldaram esse caminho.
"A desaceleração do crescimento cerebral há cerca de 100.000 anos foi um ponto de virada que levantou um enigma: se um cérebro maior não era mais tão interessante, como conseguimos expandir nossas capacidades cognitivas? Essa questão está na intersecção entre biologia, cultura e sobrevivência", explica o pesquisador.
Para seu estudo, Stibel analisou 800 medidas cranianas de todo o gênero Homo. Entre elas, estavam H. erectus, H. heidelbergensis, H. neanderthalensis e H. sapiens, totalizando 690 humanos e 99 indivíduos não modernos. Crânios juvenis ou deformados foram excluídos para garantir estimativas confiáveis para adultos. As estimativas do tamanho do cérebro foram derivadas usando uma fórmula de regressão validada em 27 espécies de primatas. Os fósseis foram agrupados em faixas etárias de 100.000 anos, e análises adicionais foram baseadas nas principais fases climáticas (períodos glaciais e interglaciais) determinadas a partir de dados isotópicos globais.
Os resultados mostraram que, há cerca de 100.000 anos, a pressão evolutiva por cérebros maiores diminuiu nos humanos. Grupos que não conseguiram se adaptar cognitivamente desapareceram, o que explica a extinção de algumas espécies. Em contraste, aqueles que sobreviveram encontraram novas maneiras de continuar a aprimorar suas habilidades cognitivas, apesar de terem cérebros menores.
"A principal adaptação parece ter sido a descarga cognitiva — a transferência do esforço mental para ferramentas, linguagem e sistemas culturais compartilhados. Essas ferramentas expandiram nossa consciência para além do cérebro, tornando-nos extraordinariamente capazes, mas também profundamente dependentes dos sistemas que criamos", explica Stiebel.
O tamanho do cérebro aumentou significativamente durante o Pleistoceno Inferior e Médio, mas o crescimento desacelerou há cerca de 300.000 anos. A massa cerebral atingiu o pico há cerca de 100.000 anos, e houve pouca evidência de crescimento direcional posterior. Em vez disso, os dados sugerem uma mudança em direção à seleção estabilizadora, na qual manter o tamanho do cérebro, em vez de aumentá-lo, tornou-se vantajoso. O clima desempenhou um papel crítico nesse processo. Diferenças significativas entre os tamanhos dos cérebros glaciais e interglaciais só surgiram nos últimos 100.000 anos. Os cérebros eram maiores durante os períodos glaciais e menores durante os interglaciais, sugerindo que climas mais quentes aumentaram os custos metabólicos e termorregulatórios necessários para sustentar cérebros grandes.
Stibel observa que a dinâmica detalhada dessa mudança cognitiva ainda precisa ser compreendida: “E hoje, estamos cruzando limiares semelhantes com as tecnologias digitais, onde nossa sobrevivência depende menos das capacidades intelectuais dos indivíduos e mais da estabilidade de vastas redes culturais e tecnológicas? Ao compreender o momento em que nossas mentes começaram a viver fora de nossos crânios, podemos nos preparar melhor para os próximos capítulos da evolução humana, incluindo o surgimento da inteligência artificial.”
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