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Físico: Numa sociedade dividida, as sondagens tornam os resultados eleitorais aleatórios

Físico: Numa sociedade dividida, as sondagens tornam os resultados eleitorais aleatórios

Em uma sociedade dividida em dois campos, as pesquisas de opinião pública e a mídia influenciam o comportamento eleitoral. Nessa situação, a competição entre os candidatos se torna igualitária, e seu apoio pode chegar a 50%, avaliou o Prof. Piotr Szymczak, físico da Universidade de Varsóvia, que estudou os mecanismos por trás do comportamento do eleitor.

Quanto mais o apoio a ambos os candidatos se aproxima de 50%, maior a influência do acaso no resultado final, e o próprio resultado deixa de ser representativo, avaliou o Prof. Piotr Szymczak, da Faculdade de Física da Universidade de Varsóvia, em entrevista à PAP. Em sua opinião, esse fenômeno tem consequências negativas para a confiança na democracia.

Em 1º de junho, Karol Nawrocki venceu o segundo turno das eleições presidenciais, derrotando Rafał Trzaskowski, com uma diferença de 369.591 votos (1,78 ponto percentual). Esta é a menor diferença na história da Terceira República Polonesa em termos de número de votos para os candidatos no segundo turno das eleições presidenciais. Em 2020, Andrzej Duda venceu Rafał Trzaskowski por uma margem de 422.385 votos (2,06 pontos percentuais). E em 2015, Andrzej Duda obteve 518.316 votos a mais que Bronisław Komorowski (uma margem de 51,55% a 48,45%).

"Se o resultado da eleição em uma sociedade de 40 milhões de pessoas for decidido por 200.000 votos, podemos presumir que o resultado é em grande parte aleatório – não muito mais representativo do que um cara ou coroa. E provavelmente não queremos que flutuações aleatórias decidam a eleição do presidente. Esta não é uma situação favorável à democracia", avaliou o Prof. Szymczak. Ele acrescentou que as eleições polonesas são apenas um exemplo em que o apoio aos dois candidatos concorrentes foi quase igual.

Em um artigo publicado em 2024 na revista Physical Review E, Olivier Devauchelle, Piotr Szymczak e Piotr Nowakowski decidiram examinar os mecanismos que fazem com que o apoio a opções opostas em algumas eleições ou referendos se aproxime de 50%. O artigo recebeu o título revelador: "Aversão à opinião geral leva a resultados eleitorais iguais".

"Este é um fenômeno surpreendente: como os membros de uma sociedade tão grande sabem exatamente como se dividir ao meio? Para que isso aconteça, eles precisam receber feedback sobre quais são as tendências dominantes entre os eleitores restantes. Esse papel é desempenhado pelas pesquisas eleitorais", interpretou o Prof. Szymczak. O cientista também observou que a mídia dedica muita atenção às pesquisas, à disputa eleitoral e à análise do fluxo de votos antes das eleições. "Tenho a impressão de que isso é ainda mais importante do que o próprio conteúdo político", comentou o físico.

E ele deu um exemplo ilustrativo de como as pesquisas afetam o comportamento do eleitor. "Se eu souber, por meio de uma pesquisa, que meu candidato tem 70% de apoio, posso tranquilamente ir colher cogumelos em vez de votar. Mas se eu souber que ele está a 2% da vitória, então não só desistirei da colheita de cogumelos, como também ligarei para meus amigos para mobilizá-los", explicou o Prof. Szymczak. Ele acrescentou que tal mecanismo promove uma competição eleitoral cada vez mais acirrada e intensifica a polarização social.

O físico comparou um modelo simplificado de uma situação eleitoral em uma sociedade polarizada a um jogo de Go, no qual as pedras são coloridas de preto ou branco, simbolizando a escolha de um entre dois candidatos.

A probabilidade de uma determinada pedra ficar branca aumenta se o ambiente ao redor – família, amigos – também for branco. Este é um exemplo de tendências conformistas em um grupo. Tal mecanismo, no entanto, não leva, por si só, a um equilíbrio de 50/50. Outro fator é necessário: uma tendência ao inconformismo em relação à maioria. Se as pedras 'sabem' qual é a proporção geral de brancos e negros, podem mudar de lado e votar contra a tendência dominante. Dessa forma, o apoio é equalizado", descreveu o pesquisador.

Esse mecanismo promove uma competição eleitoral cada vez mais acirrada e aprofunda a polarização social. Em seu trabalho, os pesquisadores mostraram que isso leva ao surgimento da chamada fase da sociedade dividida: "Dois campos políticos de força semelhante se opõem, com poucas conexões entre si. Para mudar o resultado, basta que um pequeno número de eleitores indecisos mude de lado, enquanto a maioria se mantém."

O professor Szymczak disse que a inspiração para a pesquisa veio das eleições de 2015 na Polônia, quando Bronisław Komorowski inicialmente tinha uma grande vantagem, que foi desaparecendo gradualmente até ele perder para Andrzej Duda. "Conversamos sobre isso com amigos enquanto tomávamos uma cerveja e tivemos a ideia de que talvez pudesse ser descrito com um modelo físico", lembrou.

Questionado se via uma maneira de romper com o modelo de apoio 50/50, ele respondeu que a proibição total das pesquisas eleitorais pode ser difícil de implementar, mas que se pode tentar limitar seu impacto. Ele mencionou que, na Polônia, o silêncio eleitoral dura dois dias, enquanto na Itália há uma proibição de publicação dos resultados das pesquisas por até duas semanas antes das eleições. "É uma ideia. E nós, cidadãos, sempre temos mais uma opção: enganar os pesquisadores que realizam as pesquisas", brincou. Ele observou que, se as pesquisas deixarem de ser confiáveis, seu impacto diminuirá automaticamente.

Concluindo, ele enfatizou que, para sair dessa lógica da política polarizada, é necessário superar as divisões. "O papel dos políticos deve ser conectar a sociedade e construir pontes — não apenas atacar os oponentes, mas também perceber os pontos em que o outro lado está certo. E, sobre essa base, construir uma comunidade na qual as pessoas tenham um objetivo comum e não sejam oponentes umas das outras" — resumiu o Prof. Piotr Szymczak.

Ciência na Polônia, Ludwik Tomal

lt/ agt/ bar/ lm/

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